O futuro da energia, no Brasil e no mundo, será baseado em fontes renováveis. A transição energética, movimento que já começou e tem como objetivo fazer a migração da matriz baseada em combustíveis fósseis para fontes renováveis, é essencial para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e as suas consequentes influências nas mudanças climáticas.
Porém, essa migração não é feita de uma hora para outra. É necessário um período para a construção de uma nova estrutura. Antes de os combustíveis fósseis serem totalmente substituídos por outros de fontes renováveis, teremos de conviver com as duas opções.
Por isso, ao menos por enquanto, explorar o petróleo e produzir combustível fóssil ainda será necessário para garantir a segurança energética e para financiar a “energia verde”.
Carlos Fadigas, CEO e fundador da CF Partners, explica o potencial do Brasil quanto à energia limpa, como construir um futuro mais sustentável e o papel que o petróleo irá desempenhar nos próximos anos para o financiamento dessa nova realidade energética.
Podemos afirmar que o Brasil será um país de “energia verde”?
Carlos Fadigas: Quando se fala em transição energética, o Brasil já pode ser considerado uma potência verde. O país gera muita energia elétrica a partir de fontes renováveis. As hidrelétricas, por exemplo, foram implementadas ao longo de várias décadas e não são algo novo.
Além disso, trata-se de um país de dimensões continentais, majoritariamente em região tropical, que possui muita radiação solar. Desta forma, a produção de energia solar fotovoltaica no Brasil evoluiu muito, a ponto de o país se tornar um dos 10 maiores produtores do mundo. A fonte solar já representa por volta de 12% da geração de energia do país.
O país tem também ventos em constância e em altitudes muito boas para a geração de energia eólica. Hoje, a geração de energia eólica já é quase 20% da energia consumida em todo o território brasileiro.
Por todos esses fatores, o Brasil já pode ser considerado uma potência verde e isso tem, inclusive, atraído investimento estrangeiro. Grandes empresas de diferentes países, que têm compromisso com a transição energética, já perceberam que, para atingir suas metas de redução de emissão de GEE, vai ser importante investir no Brasil, principalmente nas oportunidades de energia solar e eólica que o Brasil oferece.
E como, por meio dessas fontes, será possível construir um futuro mais sustentável no Brasil?
Carlos Fadigas: Um exemplo interessante é o da Equinor, uma empresa que tem participação do governo da Noruega. É uma companhia que produz muito petróleo no mar do Norte, na Noruega. E o maior campo da Equinor fora da Noruega fica no Brasil, o campo de Peregrino.
Então, você tem, por exemplo, a sociedade norueguesa, que é uma das mais ricas do mundo, com melhor qualidade de vida, com alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e altos níveis de escolaridade, que não abriu mão de explorar os seus recursos naturais. Mais do que isso, através da Equinor, eles vieram explorar petróleo também no Brasil, o que é positivo.
O nosso país tem uma população de renda mais baixa, com uma série de desafios, como a insegurança alimentar, e precisa fazer uma reflexão sobre como nós vamos custear os investimentos necessários para a nossa transição energética.
Neste cenário, como a exploração de petróleo pode contribuir com o desenvolvimento da energia verde no Brasil?
Carlos Fadigas: A exploração de petróleo, feita de forma responsável e cuidadosa, pode ser uma valiosa fonte de recursos para que o País gere mais riquezas para a população brasileira, na forma de impostos, na forma de royalties e também para construirmos um futuro mais sustentável.
Pode parecer contraditório, mas na verdade trata-se de uma linha de continuidade na qual você se afasta do passado e constrói o futuro, a partir do que você tem hoje, com base nessa produção de petróleo. Isso pode ser surpreendente, mas é uma das formas de construir um futuro mais sustentável para o Brasil.