Aumento da temperatura em 2023 mostra que planeta está no limite climático

Em 2023 vivenciamos o ano mais quente da história, de acordo com relatório do observatório europeu Copernicus. Segundo o estudo, pela primeira vez a temperatura média do planeta ficou todos os dias do ano 1°C acima do nível pré-industrial.


Para se ter uma ideia do problema, o Acordo de Paris (COP21) estabeleceu o compromisso dos países em reduzirem a emissão de gases de efeito estufa para manter a temperatura global, no máximo, 2º C acima dos níveis de temperatura do período pré-industrial.


Mas, já em 2023 o aumento da temperatura média de todo o ano ficou em 1,48°C, muito próximo de 1,5ºC definido como limite para evitar consequências mais graves das mudanças climáticas. Na COP21, realizada em 2015, a previsão era a de que o planeta chegaria a essa temperatura somente por volta de 2030.


Mitigar o aquecimento global requer esforços conjuntos e medidas urgentes. Diversos países, entre eles o Brasil, estão atuando em diferentes setores para reduzir as emissões e consequentemente diminuir o efeito estufa. Entre as ações, destacam-se as medidas referentes à transição energética com a redução das emissões de carbono.

Carlos Fadigas, CEO e fundador da CF Partners, explica neste espaço os principais desafios do aquecimento global, como as nações estão atuando para mitigá-lo e o que podemos esperar para os próximos anos com relação a esse tema.

 

 

Quais são as referências e quais as metas para combater o aquecimento global?

 

Carlos Fadigas: Quando se fala sobre o aquecimento global, é importante entender de onde vêm as referências e as metas. Todos os anos, a ONU promove um encontro chamado COP, com o objetivo de tratar as questões essenciais sobre as políticas referentes ao clima.


Uma das edições desse evento, a COP21, realizada em Paris, na França, originou o acordo de Paris, um dos principais acordos sobre as mudanças climáticas. O Acordo de Paris estabeleceu o limite para o aquecimento da temperatura do planeta em até no máximo 2°C quando comparado com a temperatura do período pré-industrial, que foi quando nós começamos a emitir mais CO2 na atmosfera.


Além dessa meta de limitar a 2°C, há também um outro objetivo de limitar idealmente a menos de 1,5°C de aquecimento em relação ao período pré-industrial. Então, foi esse o acordo que estabeleceu as referências sobre as quais os governos de cada país e as empresas criaram metas.

 

E quais os resultados obtidos desde anúncio do Acordo de Paris? 

 

Carlos Fadigas: Se usarmos a temperatura do planeta como principal referência, os resultados obtidos desde então não são bons. Como referência, em 2021 a temperatura da Terra foi 1,1°C acima do período pré-industrial e, em 2023, foi registrado o ano mais quente da história, com uma temperatura média de quase 1,5°C acima do período pré-industrial. Ou seja, o limite estabelecido para não ser ultrapassado no longo prazo está prestes a ser ultrapassado no curto prazo.


Isso significa que precisamos acelerar os esforços para conter o aquecimento global? 

 

Carlos Fadigas: Com certeza. Devido à aceleração do aumento da temperatura, é essencial que as metas de descarbonização do governo e das empresas, de uma maneira geral, também sejam atingidas mais cedo.


Precisamos acelerar o nosso esforço de descarbonização, incluindo a migração para energias e combustíveis renováveis, mudanças de práticas e também de procedimentos. Havia uma expectativa de que esse aquecimento viesse mais adiante e, portanto, as metas foram estabelecidas para 2040 ou 2050. Agora, devido à urgência desse tema, é essencial que essas metas sejam revistas.


É preciso que, de uma maneira geral, o governo, através da legislação, promova essa aceleração. A sociedade, seja pelo seu voto ou por suas opções de consumo, também pode demonstrar essa preocupação, pressionando inclusive as empresas. E as próprias empresas, dentro de um cenário como esse, precisam entender que elas têm um papel muito importante e que precisam agir.


Adicionalmente a isso, a intensificação dos eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, à medida que se tornam mais frequentes, também trazem uma evidência muito objetiva que deveria fazer com que governos, empresas e a sociedade, de uma maneira geral, percebam a gravidade do assunto e se movam mais rápido na direção por uma solução.   


Qual o papel da sociedade quando se fala em mudanças climáticas?  

 

Carlos Fadigas: A sociedade também tem seu papel. Ela não deve esperar para ver a intensificação dos eventos climáticos extremos para começar a agir. A sociedade tem que atuar fortemente desde agora. Isso pode ser feito por meio dos hábitos de consumo das pessoas e na relação com empresas e governos, para que todos se movam na direção de uma descarbonização mais rápida, evitando esse agravamento.